O meu chinês
Nos olhos de seda
traçados em viés,
tem um ar tão sensual
o meu Chinês…
Vive sobre uma almofada
de cetim bordada,
pintado a cores.
Às vezes
numa ânsia inquieta
que eu não mitigo,
e que me domina,
num sonho de poeta
ou de heroína,
fujo levando
o meu Chinês comigo!
E lá vamos!
Nem eu sei
para que alcovas orientais,
em que países distantes,
realizar
as horas sensuais,
as horas delirantes
com que eu sonhei…
……………………………………………..
Eu e o meu Chinês
temos fugido tanta, tanta vez!
Inverno – Noite – Hora Inquieta, 1922
O Fumo do Meu Cigarro
O Sol morre lá fora
num deslumbramento,
feérico e bizarro…
e o meu olhar vai seguindo
as espirais caprichosas,
e ondulantes,
do fumo do meu cigarro.
Aconchego mais
a seda esmaecida
que me envolve e não me aquece...
E penso em ti,
e na minha vida
tão partida
e tão diversa!...
Enquanto a fita, cinzenta e leve,
volteia,
se enlaça
e se dispersa!...
E o meu pensamento
vagueia
numa angústia que eu não venço,
oscilando-me
sobre um abismo de incertezas!. .
A noite desce,
desdobrando o seu véu pesado e denso...
E à minha boca cruel
e desdenhosa,
sobe, numa ironia estilizada,
o sabor amargo
e doloroso
duma longínqua posse realizada...
…………………………………………
Que tédio, Senhor, enrola a minha lembrança!
— Nada vem sobressaltar
os meus nervos quietos
e vencidos!
E o meu pensamento
vai seguindo,
obstinadamente,
a vida singular dos meus sentidos!
………………………………………….
Rondas de treva volteiam em redor.
Farta—me aquele ardor
moço e alucinado
que a minha lembrança acordou agora,
nesta sombra esguia
do passado...
Afoga-me a estranha insânia
dum louco desígnio - raro e torturante,..
E fico-me a cismar
na volúpia enfastiada
e nos tédios ruivos
desta hora desolada
e impenitente,
e ante o meu olhar
ensombrado e consciente,
ergueu-se, rácica e impiedosa,
a nostálgica, amorosa
Duquesa de Brabante!...
— essa orquídea altiva e rara
que, numa rebeldia
fidalga e sem remédio,
arrefecia
em horas de extermínio
as horas criminosas do seu tédio
Outono – Hora cinzenta, 1925
Última frase
Minha alma ergueu-se para além de ti...
Tive a ânsia de mais alto
—abri as asas, parti!
Outubro 1922
Poemas de Judith Teixeira (1880- 1959)
En 1923 se publica su primer libro;"Decadência". Este mismo año, el Gobierno Civil de Lisboa lo quema en una hoguera pública, junto con las "Canções" de António Botto y "Sodoma Divinizada" de Raúl Leal, porque atentaban contra la moral y las costumbres de la época.
judith, teixeira, poemas
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1 comentario:
La admirable voz de una poetisa maior que aún no es del conocimiento delos lectores portugueses, e que para gran espanto mio se conoce en otros lugares... muchas gracias y perdona mi Espanhol... sói Português.
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