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domingo, 22 de febrero de 2009

O mar atinge-nos, poesia-guitarra portuguesa, un CD de Maria Azenha

He recibido hace unas semanas el disco O mar atinge-nos, de la poetisa portuguesa Maria Azenha. El CD reúne 20 poemas recitados por su autora y acompañados de guitarras portuguesas. He disfrutado con este trabajo. De entrada, la voz de Maria, rítmica y profunda, tiene la capacidad de transmitir casi tantos matices como sensaciones evoca el mar. Además, en este caso, su voz rompe con el “maleficio” de que los poetas son malos declamando sus propios textos. Los poemas son una maravilla.
Quiero que disfrutéis con el video Chuva marítima en el que recita uno de los poemas de O mar atinge-nos, con las olas rompiendo al fondo.




Chuva marítima

cultivo rosas brancas
em varandas a ocidente
daqui avista-se o mar
e o mar é grande

chove.

atravesso um caminho branco
chove.
o mar entrou pelo meu coração
chove.




Transcribo otros dos poemas de este trabajo: Desde que a luz se fez artificial y Ontem e hoje, Mãe!

Desde que a luz se fez artificial

desde que a luz se fez artificial ficámos orfãos
juntaram-se nas cidades os solitários
para pôr em comum a solidão,
- fumadores de papel, como teria dito Pavese -
puxados pela corda negra da fome.
há livros de olhos postos no corpo. vêem-se de noite.
de vez em quanto gritam. e nascem folhas que
uma vez abertas não se conseguem mais fechar

doem os olhos
de tanto lhes sentir a foice.


Ontem e hoje, Mãe!

Mãe,
ainda que na Árvore da Vida habites,
sinto a ausência dos teus beijos.
O nosso amor é como um vaso de leite derramando branco
nas nuvens.
As células do nosso corpo,
pequeníssimas estrelas,
comungam todas da mesma revolução.
Mãe,
a comunhão é um estado de autoconhecimento.
e a matéria veste-se para o Inconsciente:
primeiro, sono.
depois, sonho.
por fim,
rendição.

Tu és Deus, e eu também.
Quando te chamo, avanças
quatro,
cinco,
seis mil anos.
Quando entramos em sintonia com os astros
sentimos a alegria do comunismo
das árvores em tuas mãos.

A Vida é um hiper-estado de consciências.
Os crimes são anti-humanos.
As formigas, radiogaláxias que estabelecem comunicações
através das suas pequenas antenas.
Os poetas fazem parte desta sociedade de partículas.

Mãe,
as últimas ondas de luz do universo
transformaram-se em humildes campos terrestres.


Mãe,
não consigo dividir-me por zero.
Tudo está em expansão, quero dizer:
cada vez mais próximo dum ponto central.
Cada centro do espaço
é um novo projecto.
E a luz, a harpa de Thales,
que um dia disse: " Tudo está cheio de Deus".

Eu digo, deus ou deuses
porque as nossas almas são partículas enraizadas nos céus.
Sabes como os asteróides representam a mesma dança – são eles isotrópicos.
Cantam a Incriação.
E eu entro no câmbio,
- colho as sementes do espaço que não mais
existem no zero.

Ontem,
tornei-me photograficamente um quantum.

Alguém disse: " Vieste do Improvável e vais para o Improvável".
Movimentamo-nos em campos de energia. Dançamos.
Deles brota a sagrada estrela da Harmonia.

Mãe,
dizem os índios:
"Se temos um coração bom quando dançamos,
então chove."

PD para la autora
Maria, gostei muito do seu trabalho. Felicidades.

1 comentario:

Maria Azenha dijo...

Elena,

fiquei muito agradada pela delicadeza desta referência. Uma emoção.

Como dizem os índios... " se temos um coração bom quando dançamos, então chove".

Abraços marítimos,


Maria