jueves, 25 de abril de 2013
Abril duele
El blog del Establo de Pegaso cumple hoy, 25 de abril de 2013, cinco años. En 1974 estallaba en Portugal a Revolução dos Cravos. "Abril duele", dice la poeta Maria Azenha. Maria, "abril já foi. não chega.
nunca mais". Recuerdo esta fecha con dos poemas tuyos.
"Abril dói"
quando abril chega e nunca mais vem
por traição por silêncio ou por vileza
o mar já não regressa e nada tem
para além de uma praia de incerteza
nada nos resta. nem sequer o vento
neste país cortado pela bruma
sem estrelas nem bússolas de frente
aves que foram caindo uma a uma
feito de palavras adormecidas e confusas
semelhante a um tempo onde ninguém se cruza
vai morrendo lentamente nas ruas
no rumor da tarde reclusa e nua
abril caminha obscuro. não vem mais.
a chuva tropeça na palavra sem projecto
quebrou-se este país antigo e puro
conduzido por homens de má fé e cegos
extinguiram-se os mares e os areais
já ninguém espera
ninguém vem honrar a terra com o rosto dos cereais
cultivam-se a troco de falsas moedas
campos de trigo
vendem-se os rios como quem vende animais
quebrado é o tempo
abril dói.
abril já foi. não chega.
nunca mais
Há fotografias como punhais
há fotografias como punhais. e poemas também.
todos os poemas que escreverei já foram escritos
dou-me apenas ao ofício das trevas
de os revelar em pedaços de argila
neles todos estão impressos a chuva e o vento
e as folhas noviças dos séculos e
meu pai e minha mãe que já partiram
esvoaçando num passado remoto.
e também a rapariga feia e bela desfigurada pela varíola
que nunca fora amada porque não era bela
e que numa noite na taberna de Vladivostoque
se ofereceu derradeiramente a Joseph Kessel
talvez pouca gente saiba deste verso
que nunca terá sido dito deste modo
e foi acontecido durante a guerra sino-japonesa
quase ninguém esteve lá para o ver
mas eu estive. trouxe -o comigo.
é exactamente por esta razão que os meus poemas
já foram todos escritos.
são como chagas alastrando e crescendo em searas de fogo
entre a terra e as estrelas.
sei apesar de tudo porque li Juan Gelman
que cada lágrima é um problema insolúvel.
Maria Azenha
Etiquetas:
Maria Azenha poema
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